AS CRIANÇAS vivem num mundo de mentiras. A verdade é essa. Entre o Pai Natal, a fada dos dentes, o ratinho dos dentes, o coelho da Páscoa, as bruxas, o lobo mau, o homem do saco e o papão, eles vivem num mundo onde os nomes das coisas são inventados e tirados dos livros de ficção infantil. Ou de outro sítio qualquer.
Mas como é que tudo isto começou? Foram os adultos que resolveram inventar uma série de mentiras para facilitar as suas vidas, simplificar conceitos e vender livros, ou foram as crianças que adaptaram a realidade à sua imaginação?
No outro dia ouvi este revelador diálogo sobre o mundo da mentira infantil que me deu algumas pistas para a resolução do mistério:
Já te caiu algum dente?
Já. ? E recebeste algum presente?
Sim: foi o ratinho.
Como é que sabes? Viste-o?
Não?
Se não viste é porque foi a fada dos dentes.
O ratinho, esse, impostor, tinha sido finalmente desmascarado. E com ele, eu concluí que as crianças gostam de ser enganadas, ou de se enganar. Ou seja: preferem acreditar no homem-do-saco (que até pode ser de plástico, o saco) do que pôr a hipótese de existirem homens maus que não se denunciam pelos sacos. E também gostam mais de imaginar o Pai Natal a descer pelo recuperador de calor do que a visão consumista do pai nas filas do Toys ?R Us.
Percebo. Eu também prefiro a fada ao ratinho.
por Inês Teotónio Pereira, Publicado em 08 de Agosto de 2009 no jornal i
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